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O Caos Carismático

Date post: 15-Oct-2015
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    E no vos embriagueis com vinho, no qual h dissoluo, mas

    enchei-vos do Esprito, falando entre vs com salmos, entoando

    e louvando de corao ao Senhor com hinos e cnticos espiritu-

    ais, dando sempre graas por tudo a nosso Deus e Pai, em nome

    de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no

    temor de Cristo (Ef 5.18-21).

    Mas o fruto do Esprito : amor, alegria, paz, longanimidade,

    benignidade, bondade, fidelidade, mansido, domnio prprio.

    Contra estas coisas no h lei (Gl 5.22-23).

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    Introduo......................................................................................11A experincia um teste vlido da verdade? .................... 25

    A viagem insupervel ............................................................31Duas abordagens bsicas do cristianismo ............................36O historiador carismtico Vinson Synan registrou: ...........39Pedro era carismtico? ..........................................................42Paulo confiava na experincia? .............................................46

    Entusiasmados, mas ingnuos .............................................48A origem da teologia experimental ......................................49A batalha pela Bblia se intensifica .......................................53

    Deus ainda concede revelaes? ....................................... 57

    O que significa a inspirao? .................................................63Conceitos modernos sobre a inspirao ...............................64Revelao progressiva? .........................................................67O cnon est terminado ........................................................74Como o cnon bblico foi escolhido e terminado .................76

    Profetas, fanticos ou hereges? ....................................... 82

    Os profetas de Kansas City ...................................................82Montanismo ..........................................................................92Catolicismo romano ..............................................................94

    Neo-ortodoxia .......................................................................98As seitas ..............................................................................101Do Sola Scriptura a algo mais ..........................................103

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    Como devemos interpretar a Bblia? ...............................108

    rs erros que devem ser evitados .....................................111

    Cinco princpios para a interpretao correta da Bblia ....117S mais uma coisa necessria...........................................122Quatro textos bblicos comumente mal interpretados .....124Corte-a reto .........................................................................135

    Deus realiza milagres hoje? ............................................137

    O que so milagres? ............................................................137

    O que podemos dizer sobre os milagres modernos? .........141O que aconteceu com a era dos milagres? ..........................144Quando e por que Deus usou milagres? .............................145Milagres so necessrios hoje? ...........................................152Deus promete milagres para todos? ...................................155O que tornou os apstolos pessoas singulares? .................157

    O poder de Deus diminuiu? ................................................164O que est por trs da Terceira Onda

    e aonde ela est indo? ....................................................167

    Sinais e maravilhas? ............................................................171Evangelismo de poder? .......................................................178Uma orientao bblica? ......................................................183Uma herana evanglica? ....................................................194

    Como atuam os dons espirituais? ...................................200

    Dons espirituais e a mente humana ...................................201Dons espirituais ou desventuras espirituais? ....................207Dons na igreja de Corinto ...................................................212Paganismo em Corinto ........................................................214

    A influncia das religies de mistrio.................................215

    Visita Primeira Igreja de Corinto .....................................218Desencaminhados pelos falsos dons ..................................220

    Apenas o que tem valor falsificado ..................................224

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    O que acontecia na igreja primitiva? ...............................226

    A doutrina carismtica da subseqncia ............................228

    Um exame mais detalhado de Atos 8 .................................238Um exame mais detalhado de Atos 10 ...............................241Um exame mais detalhado de Atos 19 ...............................244Busque o poder ou libere-o? ...............................................248O batismo do Esprito um fato ou um sentimento? .......250Qual a diferena entre o batismo

    e o ser cheio do Esprito? ...........................................................254Deus ainda cura? ............................................................257

    O que era o dom bblico de milagres? .................................264Doena um problema universal .....................................267Um exame mais detalhado sobre curandeiros ..................271e curas ..................................................................................271

    O que nos diz a evidncia? ..................................................275Deus cura maneira dEle ...............................................279Como Jesus curava? ............................................................279Como os apstolos curavam? ..............................................282O dom de curar acabou,mas o Senhor continua a curar ...........................................286Qual a explicao para as curas carismticas? ...................287Por que os cristos adoecem? .............................................288Deus prometeu curar todo os que tiverem f? ...................290Os cristos devem ir ao mdico? ........................................291

    O dom de lnguas para hoje? ........................................293

    O dom de lnguas bblico .....................................................298As lnguas so um idioma celestial? ...................................300

    Lnguas falsificadas .............................................................302O abuso das lnguas em Corinto .........................................303Lnguas cessaro ..................................................................306

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    Agostinho tambm escreveu: .............................................311O derramamento final? .......................................................313

    Que tipos de lnguas so faladas hoje? ...............................316Por que as lnguas so bastante populares? .......................325

    O que a verdadeira espiritualidade? .............................327

    Os renovados e os no-renovados ................................331O homem natural versus o homem espiritual ...................333Marcas da verdadeira espiritualidade ................................335

    Dons no garantem espiritualidade ...................................336Santificao ou superficialidade? .......................................338Paulo versus os superapstolos ..........................................339O que significa ser cheio do Esprito Santo? ......................341

    Voc no cheio progressivamente, e sim de uma vez......343Como ser cheio do Esprito Santo ......................................344

    O que acontece quando algum cheio do Esprito? ........345Pedro: um padro de ser cheio do Esprito .........................346Como voc pode saber que est cheio do Esprito? ...........348

    Deus Promete Sade e Prosperidade? .............................351

    A religio falsa e a verdadeira .............................................352O deus errado ......................................................................358O Jesus errado .....................................................................367

    A f errada............................................................................374Conscincia crist ou cincia crist? ..................................384

    Eplogo

    Como devemos responder ao movimento carismtico? ....389

    Confrontar o erro ................................................................389Uma palavra final ................................................................391

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    Em 1978,1quando a edio original deste livro foi publicada,eu no estava preparado para as reaes amplas e diversas que elaproduziria. claro que esperava alguma reao. Quase todo livro pu-blicado sobre este assunto tem provocado divergncias. As questesenvolvidas parecem estimular as emoes mais profundas das pes-soas. alvez no seja possvel tomarmos qualquer posio sobre omovimento carismtico sem incomodarmos algum.

    No entanto, de forma muito curiosa, as expresses de concor-dnciaque recebi pegaram-me desprevenido. Literalmente, milharesde pessoas escreveram-me para agradecer pela tentativa de tratarbblica e doutrinariamente da questo carismtica. Entre elas, diver-sos pastores e outros lderes cristos agradecidos pela abordagembblica de um assunto que eles temiam abordar. Fiquei perplexo como nmero de cristos que consideram o movimento carismtico sem

    apoio bblico, mas relutam em afirmar isso em voz alta.Nos anos seguintes ao lanamento do livro, obtive uma nova

    compreenso do motivo de existir tanta confuso a respeito dosdons carismticos na igreja. Um poderoso fator de intimidao tra-balha contra os que tentam abordar esses assuntos de modo bblico.

    A crtica doutrina ou prtica carismtica vista, comumente,como algo divisivo ou grosseiro. Carismticos extremistas podem

    promover, por meio de televiso e rdio cristos, quase qualquer

    1 Os carismticos. So Jos dos Campos, SP: Fiel, 1981.

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    idia que imaginam, mas os que tentam examinar de forma crticaesses ensinos, luz da Escritura, so compelidos a silenciar.

    Falo com base em experincia pessoal. Nosso programa de r-dio Grace to You ouvido diariamente em uma rede com centenas deemissoras. Quase todas elas compartilham de nosso entendimentodoutrinrio e compromisso com a suficincia absoluta das Escrituras.Contudo, a maioria delas hesita em transmitir sries de estudos que tra-tam de 1 Corntios 12 a 14, Atos 2, Romanos 12 ou outras passagensque confrontam as discrepncias carismticas. Vrias das emissoraspossuem filosofias de trabalho que probem explicitamente qualquerensino que desafia as crenas de seus ouvintes carismticos.

    O diretor de uma rdio escreveu-me isto: Por favor, reconsideresua poltica de lidar com o movimento carismtico e outros temas con-troversos em seus programas de rdio. Apesar de compartilharmos desuas convices a respeito destes assuntos, muitos de nossos ouvintes

    no o fazem. Eles so queridos irmos em Cristo, e no consideramostil causa de Cristo atacar suas crenas. Comprometemo-nos a mantera paz entre os irmos e a unidade no corpo de Cristo. Obrigado por suasensibilidade para com estas preocupaes.

    Esse tipo de raciocnio sacrifica a verdade em favor de umapaz superficial. Essa atitude permeia a igreja contempornea. Naverdade, ela concedeu aos carismticos extremados liberdade para

    apresentarem conceitos fantasiosos, enquanto impe uma mordaaqueles que lhes fazem objeo. Quem se pronuncia inevitavel-mente tachado de divisivo, violento ou desamoroso.2O legado desse

    2 Parece irnico que os crticos do extremismo carismtico sejam to freqente-mente repreendidos por serem insensveis e divisivos. Prestem ateno a estescomentrios feitos pelo lder carismtico Benny Hinn: Algum est me atacandopor algo que ensino. Quero dizer-lhe algo, irmo: Cuidado!... Procurei um vers-culo na Bblia, mas no consegui ach-lo. O versculo que diz: Se voc no gostadeles, mate-os. Gostaria muito de t-lo encontrado!... Francamente, voc meenoja isso o que penso!... De vez em quando eu gostaria que Deus me desseuma metralhadora do Esprito Santo; eu arrancaria sua cabea! (Do programa

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    posicionamento no unidade e paz, apenas confuso e conten-da. A prova disso por ser vista nas centenas de igrejas, diretorias

    de misses, escolas e outras organizaes crists que permitirama infiltrao da influncia carismtica sem lhe darem resposta. Emltima anlise, elas devem sacrificar completamente sua posiono-carismtica ou sofrer os efeitos devastadores de uma diviso.

    Assim, o caos carismtico se espalha, pois as vozes que pro-pagam ensinos excntricos superam os fracos sussurros de quemdesafia os cristos a examinarem as Escrituras, para certificarem-sede tudo (At 17.11).

    No indelicado analisar diferenas doutrinrias luz daEscritura. No necessariamente faccioso expressar desacordocom o ensino de algum. Na verdade, recebemos o imperativomoral de examinar o que proclamado em nome de Jesus, deexpor e de condenar os falsos ensinos e o comportamento no-

    Praise-a-thon, da rinity Broadcasting Network, em de novembro de 1990.)Paul Crouch no muito mais caridoso. Ele disse a respeito de seus crticos:Creio que eles esto condenados e a caminho do inferno; no acredito que hajaredeno para eles... Digo: Vo para o inferno! Saiam da minha vida! Saiam domeu caminho!... Desejo dizer a todos os escribas, fariseus e caadores de here-sias todos vocs que vivem expondo pequenos erros doutrinrios aos olhosde todos... Saiam da frente de Deus; parem de bloquear as pontes de Deus, ou Eleos fulminar, se seu no... Saiam da minha vida! no quero falar com vocs nemouvi-los! No quero ver a cara feia de vocs! Saiam da minha frente em nome deJesus. (Do programa Praise the Lord, da rinity Broadcasting Network, em 2de abril de 1991.)A clera de Hinn e de Crouch foi dirigida contra homens e mulheres piedosos(muitos dos quais tambm carismticos) que suscitaram questionamentos bbli-cosvlidos sobre alguns ensinos novos dos mestres da Palavra da F (ver Captu-lo 12), propagados pela rede de televiso de Crouch. Crouch chamou a anlise doscrticos de esterco doutrinrio.No conheo um nico incidente, em nenhum lugar e certamente no em umcanal de televiso internacional que transmite programas ao vivo , em que alguma

    pessoa tenha falado publicamente, com tanto desprezo pelos carismticos, usandoo mesmo tipo de linguagem rude e severa como a desses dois exemplos. Por quealgum deveria considerar insensvel e desagradvel o ser examinado quanto suadoutrina, mas considera aceitvel defender-se com ameaas to grosseiras?

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    bblico. O apstolo Paulo sentiu, algumas vezes, a necessidade derepreender certas pessoas por meio das epstolas que deveriam

    ser lidas em pblico (Fp 4.2,3; 1 m 1.29; 2 m 2.17). Joo, oapstolo do amor, condenou, por escrito, de forma contundente,a Ditrefes lder eclesistico que ignorava o ensino apostlico (3Jo 9,10). Como demonstra sua segunda epstola, o conceito deJoo a respeito do amor verdadeiro estava inseparavelmente li-gado verdade. De fato, o amor divorciado da verdade nada mais do que sentimentalismo hipcrita. Esse sentimentalismo pre-dominante no evangelicalismo contemporneo.

    O desafio bblico no evitar a verdade controversa, e simfalar a verdade em amor (Ef 4.15). Esforcei-me para agir dessemodo. enho vrios amigos carismticos que amam o Senhor comsinceridade e, apesar de discordarmos em alguns assuntos fun-damentais, considero-os irmos preciosos. Entristece-me o fato

    de alguns deles acreditarem que minhas crticas ao movimentocarismtico sejam ofensivas. No entanto, a Escritura o padropelo qual todo ensino deve ser avaliado, e meu nico desejo fo-calizar a luz da Palavra de Deus sobre um movimento que invadiua igreja contempornea.

    Ainda que algumas resenhas tenham imaginado a existnciade zombaria ou sarcasmo nos meus comentrios da primeira edio

    deste livro, asseguro-lhes que meu propsito no era ridicularizar,nem naquele momento, nem agora. Alguns carismticos sentiramque eu retratei mal seu movimento, ao escolher os exemplos maisgrotescos e esquisitos da ingenuidade do movimento. Por exemplo,a primeira edio inclua este relato:

    Recentemente vi, na televiso, uma senhora contar como o pneu de seu

    carro fora curado. No faz muito tempo, recebi uma carta de algum da Flridaque ouvira um testemunho maravilhoso de uma mulher que ensinou seu co alouvar o Senhor num latido estranho.

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    Concordo que ambos os exemplos so bizarros. alvez seja injustocaracterizar o movimento carismtico com exemplos como estes. Gosta-

    ria que isso fosse verdade. Gostaria que esses dois exemplos fossem raros,mas no so. E a razo pela qual no o so que, nas fileiras carismticas,nenhuma experincia tem de ser testada pelas Escrituras.3

    Creio que as dcadas passadas confirmaram esta avaliao. Osexemplos absurdos da imprudncia dos carismticos so crescentes, medida que se perde o controle dos grupos que esto margem domovimento. Apesar disso, carismticos radicais crescem perceptivel-mente em influncia e visibilidade.

    Jan Crouch, que, com o marido, Paul, lidera a Trinity Broad-casting Network (BN), disse ao vivo na Costa Rica: Deus respondeuas oraes de duas crianas de doze anos para ressuscitar pintinhosdentre os mortos!4A sra. Crouch contou a mesma histria em umaprograma da BN que transmitido em todos os Estados Unidos e

    ao redor do mundo. A revista Charisma, o principal peridico do movimento,apresenta em pginas inteiras e duplas o Rapha Ranch, um cen-tro de sade que trata cncer com fitas de udio que contmmensagens bblicas subliminares. Voc no tem que morrer ottulo de uma fita de vdeo que pode ser adquirida no Rapha Ran-ch. Parte da propaganda descreve a estncia como o lugar onde

    pacientes que tm cncer podem vir e ser curados. O anncioproclama os poderes curadores das fitas da terapia de mensa-gens subliminares da Palavra:

    Relatam-se s centenas testemunhos de cura, salvao e libertao! Emnossa srie de Fitas de erapia da Palavra, a Palavra de Deus lida em voz alta,para ser ouvida no s de modo consciente pelos ouvidos, mas tambm para

    3 Os carismticos.So Jos dos Campos, SP: Fiel, 1981. p. 534 C, Jan. Costa Rica say thank you for sending chrstian television! Praisethe Lord(newsletter), p. 4, Sept. 1991.

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    penetrar de forma subconsciente em seu crebro, enquanto dezenas de milharesde passagens bblicas subliminares so ouvidas em apenas uma hora. A leitura da

    Palavra acompanhada de lindas msicas ungidas que criam a atmosfera de f,pela qual se pode receber de Deus. odos os dias chegam ao nosso ministrio tes-temunhos surpreendentes a respeito de curas, vidas transformadas, salvao emilagres, medida que a mente das pessoas renovada para a Palavra de Deus.5

    O evangelista Robert Tilton enviou pelo correio uma moeda

    miraculosa (na verdade, um amuleto intil) a centenas de milhares de

    pessoas, com a promessa de um milagre financeiro quele que seguis-se suas instrues e lhe enviasse um cheque com a melhor oferta quevoc puder dar! Um lembrete ameaador estava gravado, em letras ma-nuscritas, na superfcie inferior do folheto: Apenas voc e Deus sabemqual sua melhor oferta. Um jornal secular designa o programa de te-leviso Success-N-Life (Sucesso na Vida) de Robert ilton como oimprio de crescimento mais rpido na televiso crist.6

    Um de meus assistentes participou de um encontro de homensde negcio carismticos, em Chicago, no qual um sacerdote catlico tes-temunhou que Maria lhe dera o dom de lnguas, enquanto ele rezava otero. A seguir, um pastor carismtico, lder do encontro, levantou-se eexclamou: Que testemunho maravilhoso! Vocs no se sentem felizespor que Deus no se prende s nossas idias do que doutrinariamenteaceitvel? Algumas pessoas tentariam desmerecer o testemunho des-te irmo, porque esse testemunho no se harmoniza com o sistemateolgico delas. Entretanto, no importa como vocs foram cheios doEsprito Santo, conquanto que tenham recebido o batismo! Os pre-sentes, centenas deles, irromperam em aplauso fervoroso e contnuo.Nenhum deles parecia questionar o carter esprio do testemunho queestava to evidentemente em conflito com a verdade bblica.

    5 C your weapons, saints of God. Charisma,p. 14-, 15, Sept. 1989.6 P of prosperity. Dallas imes Herald, Dallas, 24 June 1990, Cad-erno A, p. 1.

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    Esse acontecimento resume a tendncia carismtica de testar adoutrina de acordo com a experincia, em vez de agir de modo contr-

    rio. As celebridades carismticas mais notveis e influentes raramenteconfessam lealdade sincera autoridade da Bblia. Os lderes carismticospreocupados com a verdade bblica estou convencido de que existemmuitos deveriam ser a voz mais distinguvel que clama contra essesabusos pelos quais so identificados. Infelizmente, poucos tm agidodesse modo. Os que denunciaram o erro fizeram um servio valioso;no entanto, eles mesmos tm sido atacados com crueldade por outroscarismticos. Eles so abordados por pessoas que citam o texto de 1 Cr-nicas 16.22 (No toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meusprofetas),7como se o versculo silenciasse todo o debate doutrinrio como se todas as pessoas que alegampossuir a uno divina falassem averdade! Em decorrncia disso, a maioria dos carismticos tem falhadoem no expor e rejeitar as influncias mais obviamente antibblicas e

    anticrists do movimento.Em vez disso, a maioria dos carismticos retrocede ao argumen-to de defesa mais fcil quase todas as crticas ao seu movimentoso injustas e duras. Os no-carismticos, intimidados pela acusa-o, so silenciados com eficcia. Algum ainda se espanta com ofato de que tantos membros das igrejas estejam confusos?

    Visto que os no-carismticos se tornam cada vez mais teme-

    rosos de questionar as alegaes carismticas, a influncia dessemovimento se espalha quase sem contestao. Valendo-se dos meiosde comunicao modernos especialmente a televiso , o mo-vimento carismtico alcanou todo o planeta, expandindo-se comvelocidade admirvel. O ensino carismtico ultrapassou os EstadosUnidos e Europa, chegando s partes mais remotas da Amrica do

    7 No contexto, este versculo probe a violncia fsica contra os reis. De modoalgum ele condena o escrutnio cuidadoso ou a crtica dirigida a pregadores emestres. Essa aplicao viola a ordem inequvoca de 1 s 5.21: Julgai todas ascoisas, retende o que bom.

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    Sul, Oriente, frica, ndia, Pacfico Sul, Europa Oriental e Rssia. Onome de Cristo conhecido em quase todos os lugares. Milhes de

    pessoas em todo o mundo crem, literalmente, que Deus tem conce-dido sinais, maravilhas e milagres em uma escala sem precedentes,desde os tempos bblicos. Essas alegaes continuam a se multipli-car a uma velocidade to incrvel, que mal podem ser catalogadas e,menos ainda, verificadas.

    Encontros fantsticos com Jesus e com o Esprito Santo sotratados como algo comum. Mensagens pessoais da parte de Deus

    j integram a rotina. Curas de todos os tipos so alegadas. comumouvirmos testemunhos comoventes a respeito de como Deus, emresposta f, corrigiu problemas de coluna, fez pernas crescereme removeu tecido canceroso. Aparentemente, os apresentadores deprogramas cristos so oniscientes e discernem que milagres e curasde vrios tipos ocorrem durante suas apresentaes. Eles incentivam

    os telespectadores a participarem e tomarem posse dos milagres.Alguns desses milagres so muito bizarros: a nota de um dlartransforma-se em outra nota de vinte dlares, mquinas de lavare outros utenslios domsticos so curados, tanques de combus-tvel vazios tornam-se sobrenaturalmente cheios, e demnios soexorcizados de mquinas de auto-atendimento. Pessoas caem noEsprito; outras alegam ter estado no cu e regressado. Algumas afir-

    mam ter ido ao inferno e voltado!Experincias incrveis parecem ser a agenda do dia, ao passo que

    Deus em um rompante hipercintico , age de forma sobrenatural,equiparada apenas com os seis dias da Criao e as pragas do Egito!

    Alguns chegam a negar a eficcia do evangelismo sem milagres.Afirmam que a mensagem do evangelho enfraquecida ou anulada,se no acompanhada de sinais e maravilhas. Crem que algumaspessoas necessitam ver sinais e maravilhas, antes de crer.Esse concei-to gerou um novo movimento, designado pomposamente a erceiraOnda do Esprito Santo, tambm conhecido como Movimento de

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    Sinais e Maravilhas (ver Captulo 6). Essa recente variao do velhotema carismtico tem atrado muitos evanglicos e outras pesso-

    as das principais denominaes que anteriormente se mostravamcautelosas a respeito da influncia pentecostal e carismtica. Caris-mticos e no-carismticos precisam avaliar com clareza as questesbblicas em jogo.

    Alguns argumentam que as pessoas de fora do movimento ca-rismtico no tm direito de avali-lo. O batista carismtico HowardErvin escreveu:

    A tentativa de interpretar as manifestaes carismticas do Esprito Santosem a experincia com os carismas to irreal quanto a aplicao da tica crist parte da dinmica da regenerao... Compreender a verdade espiritual umpredicado da experincia espiritual. O Esprito Santo no revela segredos espi-rituais aos descomprometidos e, francamente, a experincia pentecostal exigecomprometimento total.8

    J. Rodman Williams tem a mesma opinio:

    A informao, a instruo e o ensino concernentes a eles tornam-se rele-vantes no contexto de participao no Esprito Santo e dos dons conseqentesdo Esprito Santo. Uma tese fundamental pode ser estabelecida: qualquer infor-mao vital a respeito dos dons do Esprito, os carismas pneumticos, pressupe a

    participao neles. Sem essa participao, tudo o que for dito a respeito dos donspode resultar apenas em confuso e erro.9

    Contudo, a experincia no o teste da verdade bblica; pelocontrrio, a verdade bblica julga a experincia. Esse o tema centraldeste livro. ambm o argumento-chave da resposta s alegaesdo movimento carismtico. Frederick Dale Bruner expressou isso

    8 E, Howard M.Tese are not drunken, as ye suppose. Plainfield, N.J.: Logos,1968. p. 3-4.9 W, J. Rodman. Renewal theology. Grand Rapids: Zondervan, 1990.p. 326. nfase no original.

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    com clareza: O teste de qualquer coisa identificada como crist no seu significado, sucesso ou poder, isso apenas torna o teste impe-

    rativo. O teste a verdade.10

    ornou-se quase impossvel definir o movimento carismtico emtermos doutrinrios. Nos anos seguintes primeira edio deste livro, omovimento cresceu assustadoramente. Na verdade, ele alcanou o queo movimento ecumnico foi incapaz de conseguir a unidade exterior,de modo geral indiferente a qualquer preocupao teolgica. O movi-mento carismtico abriu as porta para quase todas as denominaes eseitas que aderem a algum tipo de manifestao dos dons carismticos.

    ambm conhecido como neopentecostalismo, o movimento ca-rismtico herdeiro do pentecostalismo, surgido por volta de 1900.O pentecostalismo, at 1959, era representado nos EUA principal-mente pelas seguintes denominaes: Assemblia de Deus, Igreja doEvangelho Quadrangular e a Igreja Pentecostal Unida. No entanto, em

    1959, o pentecostalismo ultrapassou as barreiras denominacionaisquando Dennis Bennett, reitor da Igreja Episcopal de So Marcos,em Van Nuys (Califrnia), experimentou o que ele cria ter sido obatismo do Esprito Santo e o dom de lnguas.11Depois disso, comodeclarou John Sherrill, os muros sucumbiram. 12E o movimento ca-rismtico espalhou-se entre episcopais, metodistas, presbiterianos,batistas e luteranos. E tem crescido desde ento, incorporando cat-

    licos, telogos liberais e vrios grupos pseudocristos.Portanto, dificil (ou impossvel) de definir o movimento caris-

    mtico por meio de alguma doutrina ou ensino advogado por todosos adeptos do movimento. O que os carismticos tm em comum a experincia que crem ser o batismo do Esprito Santo. A maior

    10 B, Frederick D.A heology of the Holy Spirit.Grand Rapids: Eerdmans,

    1970. p. 33.11 Quanto a esse relato, cf. B, Dennis. Nine oclock in the morning. Plain-field, N.J.: Logos International, 1970.12 S, John L. Tey speak with other tongues. Old appan, N.J.: Spire, 1964. p. 51.

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    parte dos carismticos define o batismo do Esprito como uma ex-perincia posterior salvao, a segunda bno que acrescenta algo

    vital ao que os cristos receberem na salvao. O batismo do Espri-to, crem eles, comumente acompanhado da evidncia de falar emlnguas ou, talvez, de outros dons carismticos. Essa experincia considerada essencial para todo cristo que deseja conhecer na suaprpria vida a plenitude do poder divino e miraculoso.

    Se voc um cristo que no tem experimentado alguns fenme-nos carismticos sobrenaturais, talvez se sinta excludo. alvez estejapensando que Deus o considera um cristo de segunda classe. Se Elese interessasse mesmo por voc, voc no teria experimentado um mi-lagre ou manifestado algum dom espetacular? Por que voc no subiua um nvel superior de bem-aventurana espiritual? Por que no ouviuJesus falar-lhe com voz audvel? Por que Ele no lhe apareceu fisicamen-te? Nossos amigos carismticos andam mesmo mais perto de Deus e

    possuem um conceito mais profundo do poder do Esprito Santo, umaexperincia de louvor mais completa, uma motivao mais forte paratestemunhar e maior devoo pelo Senhor Jesus Cristo? alvez ns, osno-carismticos, apenas no estamos altura deles?

    Quando converso com cristos que no passaram por experi-ncias carismticas, sinto freqentemente certa apreenso, medo ealarme. Parece que o movimento carismtico separou os cristos em

    agraciados e no-agraciados espirituais.Apesar de haver dedicado minha vida pregao da s doutrina

    bblica, centrada na obra do Esprito Santo na vida de cada crente, devoconfessar que, de acordo com a definio carismtica, encontro-me en-tre os no-agraciados. Admito ter perguntado a mim mesmo: todos osque passam supostamente por essas experincias incrveis esto falando a

    verdade? Estou perdendo aquilo que Deus est fazendo? Meus irmos caris-

    mticos esto em um nvel mais elevado na caminhada com Cristo?

    Creio que ansiedades semelhantes tambm ocorrem entre osprprios carismticos. Ser que algum participante dessas reunies

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    tentado a exagerar, dramatizar ou mesmo fingir algum milagre ouexperincia especial, por causa da necessidade de acompanhar os ir-

    mos aparentemente mais espirituais?Estou certo de que isso verdade. Percebo sua ocorrncia diaria-

    mente nas emissoras de televiso crists, medida que as alegaescarismticas tornam-se mais fantasiosas. De quando em quando,desvenda-se alguma fraude. Certo evangelista conhecido nacional-mente foi encontrado usando um receptor de som no ouvido; pormeio desse receptor, a esposa lhe passava informaes supostamentereveladas pelo Esprito Santo. Outro curandeiro, menos conhecido,caiu em descrdito quando foi provado que ele inclua no auditriopessoas saudveis que vinham com muletas e cadeiras de rodas parareceber cura.

    Ainda piores so os consecutivos escndalos de natureza sexu-al ocorridos entre os lderes carismticos aparentemente cheios do

    Esprito uma epidemia nas dcadas de 80 e 90. Esses aconteci-mentos foram catastrficos para a causa de Cristo em todo o mundo,minando o testemunho corporativo de todos os cristos perante omundo. Esses escndalos so o legado do movimento que se aprovei-ta de sinais e maravilhas como nica prova irrefutvel da verdadeiraespiritualidade. Para autenticar essas afirmaes, alguns lderescarismticos recorrem a milagres fraudulentos ou simulados. A

    espiritualidade considerada uma questo externa; a santidade decarter no essencial para quem cr que os fenmenos sobrenatu-rais validam sua reivindicao de falar em nome Deus. Esse sistemaproduz hipocrisia, trapaa, charlatanismo e fraude.

    Por favor, entenda: no estou dizendo que todos os lderes ca-rismticos so corruptos sei que isso no verdade. Vrios demeus amigos carismticos esto comprometidos genuinamente comCristo e so exemplos da piedade verdadeira. ampouco alego queseu movimento o nico que produz hipcritas. Estou convencido,porm, de que os ensinos fundamentais do movimento carismtico

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    criam uma nfase exagerada em evidncias externas e, por isso, es-timulam afirmaes mirabolantes, falsos profetas e outras formas

    de embuste espiritual.13Onde essas coisas florescem, o escndalo inevitvel e o movimento carismtico foi marcado, na dcada de80, por uma exagerada quantidade de escndalos.

    Agradeo a Deus pelos carismticos que amam nosso Senhorcom sinceridade e desejam obedecer-Lhe. Paulo escreveu: Uma vezque Cristo, de qualquer modo, est sendo pregado... com isto me re-gozijo, sim, sempre me regozijarei (Fp 1.18). Alegro-me pelo fatoque Cristo est sendo anunciado em muitos ministrios carismti-cos e de que pessoas esto sendo ganhas para Ele. Contudo, isso nodeve eximir o movimento carismtico ou seus ensinos de passar peloexame bblico criterioso. A Escritura nos adverte: Julgai todas ascoisas, retende o que bom (1 s 5.21).

    primeira vista, este livro talvez parea acadmico demais

    por causa do nmero de notas. Por favor, no se deixe levar pela im-presso. Garanto-lhe que no achar o livro montono ou abstrato.Porm, considerei importante apresentar os ensinos carismticosem suas prprias palavras (sempre que possvel) e ser meticuloso nadocumentao de todas as citaes.

    Em quase todos os exemplos, citei material impresso em lugarde conversas pessoais, cartas e outras fontes informais. Somente no

    Captulo 12, onde lido com o movimento Palavra da F, citei fitascassetes de ensino e programas de televiso. Ao proceder assim, sei

    13 No estou afirmando que os carismticos estimulam a dubiedade ou a hipo-crisia de modo voluntrio ou conscientemente. Em qualquer filosofia que tende amediar a espiritualidade por meio de padres exteriores quer se trate do lega-lismo fundamentalista, ascetismo hipcrita, pietismo comunitrio, instituciona-lismo religioso, farisasmo crnico, misticismo idealista ou monasticismo rgido manter as aparncias tende a tornar-se prioridade, ignorando a franqueza e ahonestidade. No movimento carismtico, as experincias espirituais extraordi-nrias so mais valorizadas do que a devoo moderada. Ainda nos admiramosdo fato de que algumas pessoas sentem-se tentadas a exagerar ou a fingir?

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    que algumas pessoas alegaro no terem sido citadas corretamen-te. Entretanto, tendo pesquisado o movimento, asseguro-lhes que

    minhas citaes soprecisas e representam fielmente o que os pre-gadores da Palavra da F tm ensinado.

    Minha orao que Deus use este livro para recordar a todosos cristos, carismticos ou no-carismticos, a nossa responsabili-dade de examinar cuidadosamente todas as coisas luz da Escritura,a fim de deixarmos a Palavra de Deus ser o juiz de nossa experincia no o contrrio e nos apegarmos apenas ao que bom.

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    Certa mulher escreveu-me em tom raivoso: Voc recorre a tra-dues gregas e as palavras pomposas para explicar o que o EspritoSanto tem realizado na igreja hoje. Quero dar-lhe um conselho quepode salv-lo da ira vindoura do Deus todo-poderoso:ponha de ladosua Bblia e seus livros e pare de estudar.Pea ao Esprito Santo quevenha sobre voc e lhe conceda o dom de lnguas. Voc no tem odireito de questionar algo que nunca experimentou.

    Um ouvinte do programa de rdio escreveu, aps minha expo-sio de 1Corntios 12 a 14: Voc e, especialmente, os ministrosdo evangelho que afirmam que o falar em lnguas no para hojeesto, na minha opinio e na de todos os que as falam, entristecendoo Esprito Santo e perdendo uma bno de Deus. Para mim isso to ridculo quanto uma pessoa no-salva tentar persuadi-los de quevocs no pode ter certeza absoluta de entrar no cu... Se vocs no

    o experimentaram, no podem dizer a algum que - que ele no existe.

    As duas cartas refletem a tendncia de avaliar a verdade por meioda experincia pessoal, e no pelas Escrituras. H pouca dvida de queos carismticos, se forem honestos consigo mesmos, tero de reconhe-cer que a experincia pessoal e no a Escritura o fundamentode seu sistema de crenas. Apesar de vrios carismticos desejarematribuir Bblia uma posio destacada de autoridade em sua vida, asEscrituras, com muita freqncia, ocupam segundo lugar em definir oque eles crem (o primeiro a experincia). Como certo autor declarou:

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    As experincias com Deus fornecem-lhes a base da f.1

    Isto exatamente o contrrio do que deveria ser. A nossa f

    deveria constituir a base das nossas experincias. A experincia ver-dadeiramente espiritual ser o resultado da vivificao da verdadena mente crist ela no ocorre em um vcuo mstico.

    comum os no-carismticos serem acusados de oposio emoo e experincia. Permita-me declarar, de forma to clara quantopossvel, que creio na emoo e na experincia como resultados essen-ciais da f genuna. Muitas de minhas experincias espirituais tm sidoacontecimentos profundos, arrebatadores, que mudaram minha vida.Por favor, no pense, nem por um instante, que defendo uma religiofria, inanimada, baseada em um credo estril ou em algum ritual vazio.

    Na experincia espiritual autntica, a emoo, os sentimen-tos e os sentidos intensificam-se freqentemente, transcendendoo normal. Isso pode incluir fortes sensaes de remorso pelo pe-

    cado, o poderoso sentimento de confiana que ultrapassa a dor deuma situao traumtica, a paz inextinguvel em meio s dificulda-des, o sobrepujante sentimento de alegria relacionado confianae esperana em Deus, a aflio intensa por causa dos perdidos,o louvor alegre pela compreenso da glria de Deus e zelo maisintenso pelo ministrio. A experincia espiritual , por definio,uma conscientizao ntima que envolve fortes emoes em res-

    posta verdade da Palavra de Deus, ampliada pelo Esprito Santo,que aplicada pessoalmente a ns.

    Os carismticos erram por tentarem alicerar seus ensinosna experincia, em vez de entenderem que a experincia autnticaocorre como resposta verdade. Muitas experincias carismticasacontecem de modo independente do e, s vezes, contrrio ao plano revelado e operao divina indicada nas Escrituras. Quando

    1 A, Gordon L. Pentecostals believe in more than tongues. In: S, Ha-rold B. (Ed.). Pentecostals from the inside out.Wheaton, Ill.: Victor, 1990. p. 55.

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    essas experincias se tornam o fundamento da f pessoal, quase noh limitao para esse tipo de falsa doutrina.

    Vemos isso em muitos livros e programas de televiso. Vi-ses, sonhos, profecias, palavras de conhecimento, mensagensdivinas particulares e outras experincias pessoais determinamo ensino. A Bblia quando consultada usada apenas comotexto-prova ou distorcida para corroborar alguma interpretaonova. No incomum as passagens bblicas serem to distorcidas,que recebem um significado contrrio ao que realmente ensi-nam. Kenneth Copeland, por exemplo, alega ter recebido muitasde suas interpretaes exclusivas mediante revelao direta. Aoensinar sobre o relato do jovem rico, em Marcos 10, Copelandbuscava apoio para a afirmao do desejo divino de que seu povotenha muitos bens materiais. As palavras de Jesus, no versculo21, so bastante claras: S uma coisa te falta: Vai, vende tudo o

    que tens, d-o aos pobres e ters um tesouro no cu; ento, vem esegue-me. No entanto, Copeland afirma haver Deus lhe reveladoque, na verdade, esse versculo promete dividendos monetriosdeste mundo. Copeland disse: Esta foi a maior oportunidade denegcio j oferecida ao jovem, mas ele a recusou por desconhecero sistema financeiro divino.2

    s vezes o suposto profeta desenvolve todo um conjunto de

    ensinos baseados na experincia ou no capricho. O Dr. Percy Col-lett, por exemplo, um mdico missionrio carismtico, desenvolveuuma grande srie de mensagens celestiais detalhadas, todas basea-das em sua experincia pessoal extraordinria. Ele afirmou ter sidotransportado ao cu durante cinco dias e meio, em 1982. Ele disseter visto Jesus, o supervisor celestial da construo de manses, ealegou que foi capaz de conversar face a face com o Esprito Santo.

    2 C, Kenneth. Laws of Prosperity. Fort Worth: Kenneth Copeland Publi-cations, 1974. p. 65.

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    Um boletim que detalha, de modo exageradamente entusiasta,a jornada do Dr. Collett ao cu comea, por incrvel que parea, com

    estas palavras:

    Embora haja no cristianismo relatos abundantes de vislumbres da outradimenso, por parte de pessoas que tiveram experincias extracorpreas, o queaconteceu com o Dr. Collett difere dessas experincias. Ele foi arrebatado aoterceiro cu, como o foi o apstolo Paulo. A diferena que no foi permitido aPaulo dizer o que ele vira e ouvira, ao passo que ao Dr. Collett, quase 2.000 anos

    depois, foi ordenado faz-lo.3

    Collett oferece fitas de vdeo que narram os pormenores de sua per-manncia no cu; e seus relatos so peculiares: udo que Deus criou naterra existe no cu: cavalos, gatos e ces. udo que ele criou na terra exis-te no cu; mas, com relao aos animais, eles so perfeitos. Por exemplo,os ces no latem... No h encanamento. Pode-se ir Casa de Banquetes

    e comer o quanto desejar, sem qualquer tipo de encanamento.4Ele descreve: O Departamento da Misericrdia o lugar ao qual

    se dirige as almas dos bebs abortados, bem como as de alguns bebscom retardamento mental agudo. Ali, as pequeninas almas so treina-das por um perodo, antes de comparecerem perante o rono de Deus.5ambm afirma ter visto a Sala dos Registros uma rea imensa ondetodas as palavras vs proferidas pelos cristos so mantidas, at que eles

    prestem conta delas ou sejam julgados; ento, naquele momento elassero lanadas no Mar do Esquecimento.6Collett descreve a Sala dovesturio (onde anjos costuram nossas vestes), manses em constru-o, um Elevador do Esprito Santo e muitas outras vises incrveis.7

    3 R, Mary S. Interview with Dr. Percy Collett. Relfes Review, report 55, p. 3,Aug. 1984.

    4 Ibid. p. 1-8.5 Ibid. p. 5.6 Ibid.7 Ibid. p. 5-6.

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    Ele acrescenta um detalhe macabro: Quando viajava de volta erra,vi duas meninas: uma morena e a outra ruiva. Paramos para conversar

    com elas seus corpos espirituais no caminho de volta. Ns lhesperguntamos o que lhes acontecera. Elas afirmaram terem morrido emum acidente de carro numa rodovia da Califrnia. Seus corpos (fsicos)estavam em sendo velados. Disseram que sua me chorava por causadelas e me pediram que lhe contasse.8

    O Dr. Collett acredita possuir a prova conclusiva para confir-mar sua histria: Cerca de um ano depois, dirigi-me regio ondevivia a me e estava contando esse testemunho. Uma mulher pre-sente levantou-se e afirmou tratar-se da descrio de suas filhas. Eulhe disse que no se inquietasse, porque suas filhas estavam em umlugar maravilhoso. Ela disse que jamais choraria outra vez.9

    Depois que o Dr. Collett terminou o discurso sobre o cu para asua terceira audincia em Montgomery (Alabama), abriu uma seo

    de perguntas formuladas pela audincia. A primeira pergunta, admi-to, foi uma surpresa: Sou peo boiadeiro. Existem rodeios no cu?Entretanto, o Dr. Collett respondeu prontamente: H cavalos

    no cu, cavalos lindos. odos eles louvam a Deus. No existe toliceno cu. No estou dizendo que um rodeio seja tolice, mas, no cu,no h aes do tipo Will Rogers.10

    Os carismticos no tm meios para julgar ou impedir testemu-

    nhos como esse, porque a experincia valida-se a si mesma. Em vez decompararem essas experincias com a Bblia, para constatarem suavalidade, os carismticos tentam fazer com que a Bblia amolde-se experincia ou, na impossibilidade, apenas a ignoram. Quantos ca-rismticos, ensinados a crer que Deus lhes d, a eles ou a seus lderes,novas revelaes, deixam a Bblia permanentemente na prateleira?11

    8 Ibid. p. 7.9 Ibid.10 Ibid.11 Alguns lderes carismticos reconhecem o problema. Kenneth Hagin, defen-

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    Tudo comea com o batismo do Esprito

    Um dos motivos por que a experincia constitui o critriodos carismticos a nfase indevida no batismo do Esprito San-to como experincia posterior salvao (v. Captulo 8). De modogeral, os carismticos acreditam que, aps algum se tornar cris-to, ele deve procurar com diligncia o batismo do Esprito. Osrecipientes do batismo experimentam diversos fenmenos, como

    falar em lnguas, sentir-se eufrico, ter vises e arroubos emocio-nais de diversos tipos. Quem no experimentou o batismo e osfenmenos subseqentes no considerado cheio do Esprito; ouseja, so pessoas imaturas, carnais, desobedientes em outraspalavras, cristos incompletos.

    Esse tipo de ensino abre as comportas para a crena de que ocristianismo vital somente experincias sensoriais, uma aps outra.

    Estabelece uma competio para saber quem recebeu a experinciamais vvida ou espetacular. E as pessoas que tm os testemunhosmais impressionantes so reputadas como pessoas de um nvel espi-ritual mais elevado. Fazem-se declaraes incrveis, que geralmenteno so questionadas.

    Por exemplo, o seguinte anncio foi publicado diversas vezes,em 1977, nos diferentes exemplares do jornal carismtico Te Na-

    tional Courier:Uma fotografia genuna de nosso Senhor. Sim, creio t-la registrado no

    filme. Em meados do vero, levantei-me s 3h30 da madrugada, por causa daforte sensao de ter ouvido uma voz: V e fotografe o meu nascer do sol. Pre-parei a cmera ao lado do rio e esperei o sol. Naquele momento, antes da aurora,senti-me muito prximo de Deus... paz absoluta. Sobre um dos negativos, h a

    sor do movimento Palavra da F (ver Captulo 12), escreveu: Certo ministro,anteriormente bastante slido na f, disse: No preciso mais daquele livro. Jo ultrapassei. A seguir, lanou a Bblia ao cho. enho o Esprito Santo. Souprofeta. Deus me envia instrues de forma direta. (Te gift of prophecy.ulsa:Kenneth Hagin Ministries, 1969. p. 24.)

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    forma perfeita de uma figura, com o reflexo na gua, de braos erguidos, como seabenoasse do lado oposto de qualquer outra sombra. Acredito que Deus me

    concedeu uma imagem de Si mesmo para compartilhar.

    Esse item assinado por Dudley Danielson, fotgrafo. Dud-ley forneceu o endereo e tambm informou que cpias em tamanhonormal, em cores naturais, estavam disponveis por dez dlares (ta-manhos maiores poderiam ser encomendados). Ele afirmou que oretrato abenoaria quem o recebesse.

    O que a Bblia diz no parece incomodar Dudley: Ningum jamaisviu a Deus (Jo 1.18). ampouco parece perturb-lo o fato de que a Es-critura declara: Deus esprito (Jo 4.24) e: Homem nenhum ver aminha face e viver (x 33.20). Evidentemente, o que a Bblia diz no to importante para ele como a sensao de ouvir um voz, o sentimen-to de paz e a proximidade de Deus. Dudley cr possuir uma fotografia deDeus e por dez dlares ele est disposto a compartilh-la.

    A viagem insupervel

    Percy Collett no o nico carismtico que cr haver estado nocu e retornado para falar sobre ele. No vero de 1976, no programaClube 700, Marvin Ford contou sua experincia de morte, ascen-

    so ao cu e retorno. Ford afirma que a gravata usada naquele diareteve o aroma do cu. Ele a guardava para cheir-la todas as vezesque quisesse refrescar a memria a respeito dessa experincia.

    Um lder carismtico que est se destacando Roberts Liardon. Eleafirma ter feito um grande passeio pelo cu, quando tinha apenas oitode idade, e o prprio Jesus Cristo o guiou pessoalmente. Ele recorda:

    Vrias pessoas perguntaram-me sobre a aparncia de Jesus. Ele tem cerca

    de 1,80m a 1,83m de altura; o seu cabelo tem um tom de castanho claro, nemmuito longo, nem muito curto. Ele o homem perfeito. No importa o que vocpensa sobre homem perfeito, Jesus o . Ele perfeito em tudo em sua aparn-cia, conversa tudo. Lembro-me dEle assim...

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    Andamos um pouco mais e esta a parte mais importante de minha hist-ria. Vi trs armazns a cerca de 450 ou 550 metros da Sala do rono de Deus. Eles

    so compridos e bem amplos... Entramos no primeiro. Assim que Jesus fechou aporta atrs de ns, olhei ao redor com grande admirao!

    Em um lado do prdio, havia braos, dedos e outras partes externas docorpo. Pernas pendiam das paredes, mas a cena parecia natural, e no bizarra.Do outro lado do prdio, havia prateleiras repletas de pequenos pacotes de olhosperfeitos: verdes, castanhos, azuis, etc.

    Esse armazm continha todas as partes do corpo humano que as pessoas neces-

    sitavam na terra,mas elas no haviam percebido que essas bnos esperam por

    elas no cu... Esto disponveis tanto para santos e como para pecadores.Jesus me disse: Essas so as bnos que ainda no foram reivindicadas. Este

    prdio no deveria estar abarrotado. Deveria ser esvaziado todos os dias. Voc devechegar aqui com f e obter as partes necessitadas por voc e pelas pessoas de seucontato dirio.12

    Liardon descreve muitas outras vises incrveis, testemunha-

    das no cu: o Rio da Vida, um estdio repleto de pessoas que eleafirmou constiturem a nuvem de testemunhas mencionada emHebreus 12.1, e um armrio com frascos de plulas rotulados: Pe O E S.13

    Eis a descrio extraordinria de Liardon sobre o que aconte-ceu junto ao rio da Vida:

    Jesus e eu visitamos um brao do rio da Vida. Esse brao tinha a

    profundidade do joelho; era transparente como o cristal. iramos nos-sos sapatos e entramos na gua. Vocs sabem qual foi a primeira coisa

    12 L, Robert.I saw heaven.ulsa: Harrison House, 1983. p. 6, 19. nfaseno original.13 Ibid. p. 16-20. Sobre esse item, Liardon escreveu: Pensei: que coisa! Overdosesmatam pessoas.Mas, em seguida, raciocinei: bem, o Esprito Santo no matar voc,ele o traduzir! E acrescentou: Quando Jesus me viu junto quele frasco, ele riu.E quando Ele ri, a coisa mais hilria que algum j viu ou ouviu. Ele se inclinapara trs com a gargalhada, e voc pensa que Ele vai cair de tanto rir. Ele ri deverdade! Essa uma das razes de sua fora: Ele ri bastante. A alegria do Senhor a fora dEle, entende? (Ibid. p. 20).

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    que Jesus fez comigo? Ele jogou gua em mim! Eu voltei e o molhei; eparticipamos de uma luta com gua. Ns nos molhvamos e ramos...

    Era significativo para mim o fato de que o Rei da Glria, o Filhode Deus, usava seu tempo com o Roberts, de oito anos, e o molhavano rio da Vida!

    Ao regressar do cu, colocarei uma marca histrica nesse acon-tecimento, que dir: Esse foi o momento em que Jesus Cristo setornou no s meu Senhor e Salvador, mas tambm meu amigo.Sim, Ele se tornou meu Amigo. Agora caminhamos juntos e conver-samos. Quando ouo uma boa piada, corro at Jesus e o ouo rir porcausa dela. E, quando ele ouve uma boa piada, conta-a a mim.14

    Liardon tambm alega que, enquanto estava no cu, foi or-denado ao ministrio pelo prprio Jesus. Andamos um pouco eestvamos calados. Ento, Jesus se voltou e tomou ambas as minhasmos em uma das suas. Colocou a outra mo no alto da minha ca-

    bea e disse: Roberts, eu o estou chamando para uma grande obra.Voc ter de ministrar e pregar como nenhuma outra pessoa; e serdiferente de todos os outros... V, v, v como ningum jamais foiat hoje. V e faa como eu fiz.15

    A viagem de Liardon ao cu aconteceu supostamente em 1973.Seja como for, ele disse no ter contado nada a ningum duranteoito anos. Ele afirma que Jesus lhe apareceu mais duas vezes. A se-

    gunda vez descrita como extremamente sagrada, e no pode falarsobre ela. Entretanto, a terceira vez foi um pouco mais mundana:

    A terceira vez em que vi a Jesus, eu tinha cerca de onze anos. Jesus entroupela porta da frente de minha casa, enquanto eu assistia ao programa de televi-so Laverne & Shirley. Ele se aproximou e sentou-se no sof, ao meu lado, olhoupara a V, e tudo neste mundo natural parou, como em um clique. Eu no con-seguia ouvir o som do telefone ou da televiso escutava apenas a Jesus e tudo

    o que enxergava era a sua glria.

    14 Ibid. p. 16-17.15 Ibid. p. 22.

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    Ele olhou para mim e disse: Roberts, desejo que voc estude a vida dosgenerais do meu grande exrcito no decorrer dos sculos. Conhea-os como a

    palma de sua mo. Saiba por que eles foram bem-sucedidos. Descubra por queeles falharam, e nada lhe faltar nessa rea.

    Ele se levantou, voltou pela porta, e, em um clique, a televiso voltou afuncionar. Eu continuei assistindo ao programa Laverne & Shirley.16

    Liardon chegou fase adulta e, agora, uma pessoa de desta-que no meio carismtico. Grandes propagandas de seu ministrio

    figuram quase todos os meses na revista Charisma. No entanto, osrelatos de Liardon sobre o cu so bizarros, chegando ao ponto detolice. inconcebvel algum ver Jesus face a face e voltar a assistira um episdio de Laverne & Shirley.

    A maior parte dos cristos considerar, de imediato, as histrias deLiardon como algo imaginrio ou absurdo, quando no completamenteblasfemo. No mundo carismtico, esses relatos no so rechaados com

    presteza. Multides ouvem esses relatos e desejam ter experincias se-melhantes. Em conseqncia, excurses ao cu tornaram-se algo chique a experincia suprema para quem deseja algo incomum e mui-tas pessoas alegam ter realizado essa viagem.17Em 11 de abril de 1977,uma canal de televiso carismtico, sediado na regio de Los Angeles,transmitiu uma entrevista com o Dr. Richard Eby que afirmava termorrido, ido ao cu e retornado.

    16 Ibid. p. 26.17 Para no ser superada, Aline Baxley, ex-alcolatra e viciada em drogas, dizter ido ao inferno e que Deus a trouxe de volta para contar sua histria. Eladivulgou um folheto para contar sua histria: I Walked in Hell and Tere Is LifeAfter Death. Charisma,p. 145, Nov. 1990. Anncio.O testemunho de Aline Baxley pode ter sido a vanguarda de uma nova tendnciacarismtica. Recentemente assisti a um episdio do programa Clube 700 noqual uma mulher afirmava ter sentido o inferno, em uma experincia de quasemorte, durante uma cirurgia. Na semana seguinte, um amigo carismtico en-viou-me um livro que asseverava ser divinamente inspirado e detalhava as visesde uma mulher e suas experincias extracorpreas no inferno. B, Mary K.

    A divine revelation of hell. Washington: National Church of God, [19--].

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    De acordo com o Dr. Eby, ele caiu da sacada, bateu a cabea e,supostamente, morreu. Ele relata ter experimentado o Paraso. Sua

    vista, anteriormente fraca, no precisavam mais de culos; agora eleera capaz de enxergar centenas de quilmetros frente. Seu corporecebeu uma qualidade maravilhosa era capaz de se locomoveraonde desejasse; tornara-se visvel, mas transparente.

    O Dr. Eby disse ter encontrado algumas flores, partiu-as e per-cebeu no haver gua no caule, porque Jesus a gua viva.

    O aroma do cu era especialmente impressionante, por cau-sa do odor adocicado dos sacrifcios, o Dr. Eby falou. Ele disse queo crebro humano possui doze nervos cranianos e acrescentouque os doze nervos representam as doze tribos de Israel. Almdisso, ele declarou que o nervo principal do crnio de Deus o doolfato. Eby disse ter aprendido que o propsito dos sacrifcios eraenviar um doce aroma ao cu, para satisfazer o nervo principal do

    crnio de Deus.Enquanto o Dr. Eby falava, o apresentador do programa deentrevistas dizia, repetidamente: Maravilhoso! Fantstico! Isto substancioso.

    Substancioso? Nas Escrituras nada indica que o Dr. Eby ouqualquer pessoa que esteve no cu tenha recebido um corpo trans-parente que flutua no ar. O Cristo ressurreto no possua um corpo

    desses. De acordo com a Bblia, no cu os crentes no tero corposat sua ressurreio, quando Jesus voltar.18

    A respeito do doce aroma dos sacrifcios, o Dr. Eby expressouum entendimento completamente errado do sistema de sacrifciosda Bblia. A principal caracterstica dos sacrifcios era a morte doanimal, no o odor de carne queimada (cf. Hb 9.22).

    Quanto afirmao de que os doze nervos cranianos repre-sentam as doze tribos de Israel, tambm seria justo dizer que os

    18 Cf. Jo 5.28-29; 1 s 4.16-17.

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    dois olhos dos seres humanos representam as duas testemunhasde Apocalipse 11.1. Verifiquei, com um mdico, a informao so-

    bre os doze nervos cranianos e descobri que se trata, na verdade,de doze pares de nervos, ou seja, vinte e quatro nervos. alvezseja melhor dizer que eles correspondem aos vinte e quatro anci-os mencionados em Apocalipse 4!

    Esse tipo de adulterao negligente da palavra de Deus deve-ria incomodar o corao de qualquer cristo. No entanto, o Dr. Ebyfoi questionado no programa a respeito de suas bases bblicas? No!Disseram-lhe que suas informaes eram substanciosas ou seja,significavam substancialmente algum tipo de verdade mais profun-da. Mais profunda em comparao ao qu? Bblia? Certamente,no. O Dr. Eby teve uma experincia, e pelo fato de que a aborda-gem carismtica permite que a experincia valide-se a si mesma,ningum questionou as afirmaes dele. As idias do Dr. Eby foram

    ouvidas em milhares, talvez milhes, de lares como exemplos dascoisas maravilhosas que Deus tem operado hoje.

    Duas abordagens bsicas do cristianismo

    Com certeza, Percy Collett, Dudley Danielson, Marvin Ford,Roberts Liardon, Aline Baxley e Richard Eby so, todos, exemplos

    extremos, mas no soincomuns. O testemunho deles representa oque se ouve comumente entre nossos irmos carismticos. Visto quegrande quantidade de experincias relatada, na literatura e na m-dia religiosa, um padro sutil e sinistro est se desenvolvendo. Emvez de corresponder interpretao adequada da Palavra de Deus, ocristianismo est colecionando experincias fantsticas e insensatas.

    A Bblia manipulada para adaptar-se a essas experincias ou com-pletamente ignorada. O resultado o misticismo pseudocrsto.O misticismo um sistema de crenas que almeja perceber

    a realidade espiritual parte de fatos objetivos e comprovveis.

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    Procura a verdade por meio de sentimentos, intuio e outras sen-saes interiores. As informaes objetivas so freqentemente

    descartadas; portanto, o misticismo deriva sua autoridade de simesmo. O sentimento espontneo torna-se mais importante queo fato objetivo. A intuio sobrepuja a razo; a impresso inte-rior, a realidade externa. Veremos em breve que o misticismo omago do existencialismo moderno, do humanismo e de muitasformas de paganismo destacando-se o hindusmo e seu aliado,a filosofia da Nova Era.

    O misticismo irracional encontra-se no mago da experinciacarismtica. Ele subverteu a autoridade bblica dentro desse movi-mento, substituindo-a por um novo padro: a experincia pessoal.No se deixe enganar, o efeito prtico do ensino carismtico elevara experincia pessoal a um plano superior, em detrimento do en-tendimento correto das Escrituras. Isto corresponde exatamente

    advertncia da mulher mencionada no incio deste captulo: Ponhade lado sua Bblia e seus livros e pare de estudar. As revelaes parti-culares e as sensaes pessoais so mais importantes para ela do quea verdade eterna da Palavra inspirada de Deus.

    Existem apenas duas abordagens bsicas da verdade bblica.Uma a abordagem histrica e objetiva, que enfatiza a ao deDeus entre os seres humanos conforme as Escrituras ensinam.

    A outra abordagem pessoal e subjetiva enfatiza a experi-ncia humana de Deus. Como devemos formar nossa teologia?Devemos nos dirigir Bblia ou s experincias de milhares depessoas? Se nos dirigirmos s pessoas, teremos tantas opiniesquantos forem os indivduos. Isto exatamente o que aconteceem todo o movimento carismtico moderno.

    A teologia objetiva e histrica teologia da Reforma, o evan-gelicalismo histrico, a ortodoxia histrica. Comeamos pelasEscrituras. Nossos pensamentos, idias ou experincias so valida-dos ou no mediante a comparao com a Palavra.

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    Por outro lado, o conceito subjetivo a metodologia do catolicismoromano histrico. Intuio, experincia e misticismo sempre tiveram

    papel central na teologia catlica.19O conceito subjetivo tambm jaz nocorao do liberalismo e da neo-ortodoxia (v. meus comentrios sobre oassunto no Captulo 3). Nesses sistemas, a verdade determinada pelaintuio e pela sensao. A verdade o que sucede ao intrprete.

    O conceito subjetivo tambm a metodologia do pentecos-talismo histrico, surgido nos primeiros anos do sculo XX. Oshistoriadores carismticos traam a origem do movimento moder-no a um pequeno seminrio bblico em opeka (Kansas), dirigidopor William Parham. Parham era adepto do movimento Holiness, oqual ensina que a santificao completa o estado espiritual capazde alcanar a perfeio absoluta nesta vida pode ser obtida peloscristos mediante a segunda bno, uma experincia marcante detransformao, subseqente salvao. Parham era um propagan-

    dista entusiasmado da cura pela f. Aps uma experincia na qualele afirmou ter sido curado de uma doena cardaca em sua piorforma, jogou fora todos os remdios, cancelou seu seguro e recusouqualquer forma de tratamento mdico pelo resto da vida.20

    Parham fundou o College of Bethel em 1900, e o estabeleci-mento encerrou suas atividades no ano seguinte. odavia, o queaconteceu nesta escola em 1o de janeiro de 1901 espalhou-se por

    todo o cristianismo no decorrer do sculo XX.A metodologia bblica usada pelo Bethel College era peculiar;

    empregava o conceito de cadeia de referncias temticas, popularnaqueles dias. Os tpicos principais deviam ser estudados mediante

    19 Quanto a uma abordagem edificante sobre o relacionamento entre a teolo-

    gia catlica romana e o pensamento carismtico, ver C, Gordon H. I Corin-thians: a contemporary commentary. Philadelphia: Presbyterian and Reformed,1975. p. 223-227.20 S, Vinson. Te touch felt around the world. Charisma, p. 80, Jan. 1991.

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    a leitura consecutiva do assunto, medida que surgiam na Bblia.21Em outras palavras, estudavam-se tpicos usando uma concordn-

    cia para descobrir os termos-chave; jamais se estudou integralmenteum livro da Bblia. Assim, nenhum versculo era considerado partedo contexto maior. Estudavam-se doutrinas por meio do exame dondice das Escrituras, coligidos e isolados dos respectivos contextos.Portanto, a hermenutica sadia e a exegese cuidadosa eram imposs-veis. odavia, Parham possua objetivos claros: Quando o seminriofoi aberto, os alunos comearam a estudar as principais doutrinas domovimento Holiness.22

    O historiador carismtico Vinson Synanregistrou:

    Durante alguns anos, Parham se interessou especialmente pelas opinies

    divergentes quanto ao recebimento do batismo no Esprito Santo. Por volta de1890, a maior parte das pessoas ligadas ao movimento Holiness equiparava obatismo no Esprito ao recebimento da experincia da santificao. Ensinavamque o fogo do Esprito Santo purificava o corao do pecado natural, capacitandoo receptor a testemunhar a outras pessoas e a viver de maneira vitoriosa. Entre-tanto, desde a poca de John Wesley, o primeiro a enfatizar a segunda bno,no havia nenhuma evidncia comumente aceita do recebimento dessa bno.

    Ao apresentar essa dificuldade aos alunos, Parham explicou que os adeptos

    do movimento Holiness ensinavam teorias diferentes a respeito do recebimento dobatismo. Alguns, ele observou como exemplo, afirmam ter recebido bnos ouevidncias, como gritar ou saltar. Ao mesmo tempo, durante vrios anos, Parham vi-veu impressionado com a possibilidade de que a glossolalia [o falar em lnguas] fosserestaurada na forma de facilidade para falar lnguas estrangeiras, concedida a missio-nrios, para que no mais tivessem de gastar tempo com estudo normal de lnguas.23

    21 Ibid. p. 81-82.22 Ibid. p. 82.23 Ibid.

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    O interesse de Parham por essas questes determinou o cur-rculo da classe. Ele convocou os alunos e suas concordncias para

    ajud-lo a resolver o enigma.

    Nos ltimos dias de novembro de 1900... Parham entregou aos alunosuma tarefa de casa incomum. Visto que tinha um compromisso de pregar emuma igreja de Kansas City, no final de semana, ele instruiu a classe:

    Os dons encontram-se no Esprito Santo; e, com o batismo do EspritoSanto, os dons, bem como todas as graas, devem se manifestar. Portanto, alu-

    nos, enquanto eu estiver fora, percebam se no h alguma evidncia do batismo,para no haja dvidas sobre o assunto.Ao retornar, em 30 de dezembro, Parham encontrou o veredicto unnime. Foi-lhe

    relatado: Embora haja coisas diferentes que ocorreram quando a bno do Pentecostesfoi derramada... a prova inequvoca, em todas as ocasies, foi a de que as pessoas falaramem outras lnguas. luz desta concluso, todo o seminrio concordou em buscar umarestaurao do poder do Pentecostes, com a evidncia de falar em lnguas.24

    Assim, a primeira pessoa dos tempos modernos a procurar obatismo do Esprito Santo com a evidncia das lnguas (e suposta-mente a receb-lo) era uma aluna de Parham. O primeiro dia do anode 1901 foi escolhido como a data em que os alunos deveriam buscaro batismo. Bem cedo, na manh do primeiro dia do sculo XX, umpequeno grupo de estudantes de opeka deu incio reunio de ora-o. Durante vrias horas, nada incomum aconteceu. Ento,

    Naquele dia, mais tarde, uma aluna de 30 anos, chamada Agnes Ozman,aproximou-se de Parham e pediu-lhe que impusesse as mos sobre ela para orecebimento do Esprito Santo com o sinal apostlico de falar em lnguas. Elatestemunhou: Enquanto ele orava e impunha as mos [sobre] minha cabea,comecei a falar em lnguas, glorificando a Deus. Falei diversas lnguas. Isso setornou evidente quando [um dialeto] era falado. Glria a Deus!25

    24 Ibid. p. 83.25 Ibid.

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    Depois disso, outros relataram o recebimento do Esprito San-to. A maior parte das pessoas testemunhou que no podia impedir

    o falar as lnguas; quando tentavam falar ingls, outras lnguas flu-am. odos os presentes acreditavam que estavam falando lnguasterrenas reconhecveis. De fato, Agnes Ozman afirmou ter escritoem chins, apesar de nunca ter estudado o idioma.26

    Essas experincias foram amplamente avaliadas luz de todo ocontexto da Bblia? A a exegese cuidadosa das passagens bblicas sobrelnguas foi usada para interpretar alguma das experincias dos alunos?

    Atentou-se possibilidade de ter sido um fenmeno demonaco? Pelocontrrio, Synan registrou: Essa experincia confirmou o testemunhoe ensinamento de Parham, de que as lnguas eram a evidncia inicialdo batismo no Esprito Santo.27Nenhum outro estudo bblico sobre oassunto foi considerado necessrio. Assim nasceu o pentecostalismo.

    Sessenta anos depois, o movimento carismtico surgiu com

    a experincia de Dennis Bennett, reitor da Igreja Episcopal de SoMarcos, em Van Nuys (Califrnia).28Hoje, tanto o movimento pen-tecostal como o carismtico baseiam-se em experincias, emoes,fenmenos e sentimentos. Como escreveu Frederick Dale Bruner:

    26 Ibid.27 Ibid. Com relao aplicao a misses, Synan acrescentou: O significadomaior desse acontecimento para Parham jazia na crena de que as lnguas eramxenoglossolalia, ou seja, lnguas estrangeiras conhecidas, que o Senhor poderiaconceder a futuros missionrios, para a evangelizao de outros pases. Isso, maistarde, solidificou-se na mente dele quando lingistas e intrpretes estrangeirose governamentais visitaram a escola e disseram que pelo menos vinte lnguas edialetos eram falados e compreendidos com perfeio. (Ibid.)Entretanto, nenhuma dessas afirmaes foi confirmada de modo independen-te. Se fossem verdadeiras, tornar-se-ia difcil explicar o fracasso do seminrionaquele mesmo ano. Segundo as expectativas, Bethel deveria ter se tornado o

    maior centro de treinamento missionrio da histria da igreja. Porm, desconhe-o qualquer missionrio de Bethel ou de outra organizao carismtica quetenha usado as lnguas na maneira concebida por Parham.28 B, Dennis.Nine oclock in the morning. Plainfield, NJ: Logos, 1970.

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    Em resumo, o pentecostalismo deseja ser considerado cristianismo experi-mental, cuja experincia mais elevada o batismo do crente no Esprito Santo...

    importante observar que no a doutrina, e sim a a experincia com oEsprito Santo que os pentecostais fazem questo de salientar.29

    Pedro era carismtico?

    interessante especular se Pedro seria um carismtico, sevivesse hoje entre ns; porque ele mesmo falou em lnguas, curou

    pessoas e profetizou. ambm passou por experincias fantsticas.Por exemplo, ele testemunhou com os prprios olhos a transfigura-o de Cristo, conforme relatou em 2 Pedro 1.16-18.

    Essa experincia o deixou atordoado e o levou a balbuciar algoa respeito de fazer trs tendas naquele lugar: uma para Jesus, outrapara Elias e outra para Moiss porque estar ali era agradvel a

    todos eles (Mt 17.1-4). Ele estava to emocionado, por causa da ex-perincia, que, como sempre, disse a coisa errada.Apesar disso, foi uma experincia incrvel. Jesus ps de lado o vu

    da sua carne e revelou sua glria, a glria a ser manifestada em sua se-gunda vinda. Pedro, iago e Joo vislumbraram a segunda vinda. Essafoi a majestade a respeito da qual Pedro falou em 2 Pedro 1.16.

    No entanto, Pedro baseou sua teologia em experincias seme-

    lhantes a essa? Leia 2 Pedro 1.19-21:

    emos, assim, tanto mais confirmada a palavra proftica, e fazeis bem ematend-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, at que o dia cla-reie e a estrela da alva nasa em vosso corao, sabendo, primeiramente, isto: quenenhuma profecia da Escritura provm de particular elucidao; porque nun-ca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens[santos]falaram da parte de Deus, movidos pelo Esprito Santo.

    29 B, Frederick D.A Teology of the Holy Spirit, Grand Rapids: Eerdmans,1970. p. 21. nfase no original.

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    Uma melhor traduo do texto grego, no versculo 19, seria: e-mos a confirmadssima palavra proftica. Outra traduo mais clara

    seria esta: emos ainda mais firme a palavra proftica. Mais firme emcomparao ao qu? experincia. Na verdade, Pedro estava dizendoque, embora a transfigurao tivesse sido uma experincia maravilho-sa, a Escritura era o teste mais fidedigno de sua f. Ainda que houvessecontemplado o prprio Senhor em sua glria, Pedro estava certo de quea palavra de Deus, registrada por homens movidos pelo Esprito Santo,era um fundamento mais slido para sua f.

    O principal ensino de Pedro era exatamente aquilo que tan-tos carismticos no conseguem entender: toda experincia tem deser testada pela palavra mais firme da Escritura. Quando procuramosa verdade sobre a vida e a doutrina crist, no podemos descansarapenas na experincia de algumpessoal. emos de alicerar todo onosso ensino na Palavra de Deus revelada. A maior deficincia do

    movimento carismtico dar mais valor experincia do que Pala-vra de Deus, para determinar o que verdade.A maior parte dos carismticos cr que o progresso na vida

    crist significa possuir algo mais, algo melhor, alguma experinciaeletrizante. Um ex-carismtico, membro de nossa igreja, disse-mepor que sua frustrao crescia no movimento carismtico: Passa-se o resto da vida procura de outra experincia. A vida crist se

    transforma em uma peregrinao de experincia em experincia; e,se cada experincia no for mais espetacular que a anterior, muitaspessoas comearo a imaginar que algo est errado.

    Ouvi certo homem na televiso dizer que guiava o carro quando,repentinamente, ele olhou e viu Jesus sentado a seu lado, em forma f-sica. O homem disse: Isso foi maravilhoso. Eu dirigia e conversava comJesus; Ele estava sentado a meu lado. Em seguida, ele afirmou: Se tiverf suficiente, poder conversar com Jesus Ele aparecer para voc!

    A Bblia diz a respeito de Cristo: A quem, no havendo visto, amais;no qual, no vendo agora,mas crendo, exultais com alegria indizvel e

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    cheia de glria (1 Pe 1.8 nfase acrescentada). evidente que Pe-dro no acreditava na possibilidade de que seus leitores vissem a Jesus;

    tampouco achava que essas vises eram necessrias f, esperana,amor ou alegria. Apesar disso, vrios carismticos concluram que vocpode experimentar a presena fsica de Jesus, se tiver f suficiente.

    No so apenas carismticos mal informados ou imaturos queconcebem essas experincias. H alguns anos, almocei com um pastorcarismtico muito conhecido e influente. Era tambm um autor mui-to lido e uma pessoa freqente nos meios de comunicao dos EstadosUnidos. Ele me disse: De manh, quando me barbeio, Jesus entra nobanheiro, pe o brao minha volta e conversamos. Ele pausou paraavaliar minha reao e disse-me: John, voc acredita nisso?

    No, no acredito, respondi. Porm, o que mais me incomo-da o fato de que vocacredira.

    Por qu?, ele perguntou. Por que to difcil voc aceitar a

    idia de que Jesus vem visitar-me pessoalmente a cada manh?Eu pensei: ser que ele continua fazendo a barba?Ou cai de temore tremor na presena do Senhor santo e glorificado?Quando Isaas viuo Senhor no trono, ele disse: Ai de mim! Estou perdido! (Is 6.5) Pe-dro viu o Senhor e prostrou-se, dizendo: Senhor, retira-te de mim,porque sou pecador (Lc 5.8). No creio que algum pudesse conti-nuar a barbear-se na presena do Senhor ressurreto!

    A razo pela qual tantos carismticos parecem ser atrados porsupostas vises de Jesus e passeios pelo cu o fato de cometeremo mesmo erro promovido por Henry Frost, em seu livro MiraculousHealing (Cura Miraculosa):

    Podemos afirmar com certeza: medida que a apostasia se desenvolve, Cristomanifestar sua divindade e senhorio, em medida crescente, por meio de sinais e

    milagres, incluindo curas. No devemos dizer, portanto, que a palavra suficiente.30

    30 F, Henry.Miraculous healing.New York: Revell, 1939. p. 109-110.

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    No devemos dizer que a Escritura suficiente? O prprio Deusafirma a suficincia de sua Palavra! (Sl 19.7-14; 2m 3.15-17). Quem

    Henry Frost para dizer o contrrio?Embora muitos carismticos no afirmem sua posio to claramen-

    te como Frost, a verdade que, no mago do seu sistema de crenas, existea negao da suficincia da Bblia. Eles so culpados do mesmo tipo depensamento que Filipe expressou em Joo 14.6-9. Jesus estava com os dis-cpulos na ltima ceia e declarou: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;ningum vem ao Pai seno por mim. Se vs me tivsseis conhecido, conhe-cereis tambm a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto.

    Jesus disse algo maravilhoso nessa ocasio. Ele mostrara aosdiscpulos que os deixaria. Agora, os consolava ao dizer que no la-mentassem; eles tinham visto o Pai nEle e conheceram a Deus porintermdio dEle. udo ficaria bem.

    Contudo, Filipe no estava satisfeito. No lhe era suficiente

    ouvir as palavras de Jesus. Aparentemente, Filipe precisava de algomais uma viso, um milagre, um sinal, qualquer coisa porqueafirmou: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta (Jo 14.8). Emoutras palavras: O que disseste e fizeste no suficiente. ua pro-messa no o bastante. Prova-a. Faze algo mais por ns d-nosuma viso de Deus; d-nos uma experincia.

    Jesus ficou visivelmente ofendido com o pedido de Filipe. Ele

    disse, com tristeza: Filipe, h tanto tempo estou convosco, e no metens conhecido? Quem me v a mim v o Pai (14.9). Isso equivale a:Filipe, eu no sou suficiente? Voc me viu, tem observado minhasobras, tem ouvido minhas palavras e precisa de mais?

    As palavras de Filipe foram um insulto a Deus, o Filho. triste,mas muitas pessoas hoje repetem o mesmo insulto, ao procurarem algomais. Insultam a Deus, que se revelou de modo suficiente na Escritura.

    Ningum deveria preferir experincias Palavra de Deus. odaexperincia deve ser examinada e validada pelas Escrituras. Qualqueroutro tipo de experincia falso. Lembram-se dos dois discpulos

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    solitrios, de corao aflito, que andaram com o Senhor a caminhode Emas (Lc 24.13-35)? medida que prosseguiam pelo caminho,

    Jesus lhes abriu as Escrituras. Comeando por Moiss e pelos Pro-fetas, ensinou-lhe o que se referia a Ele mesmo. Mais tarde, elesdeclararam: Porventura, no nos ardia o corao, quando ele, pelocaminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? (24.32).

    Esses discpulos tiveram uma experincia; o corao lhes ardiano peito. Contudo, antes da experincia, o Senhor lhes abriu as Es-crituras. A Bblia descrevem, repetidas vezes, a alegria, a bno ea experincia (v. Sl 34.8; Ml 3.10). odas essas experincias, casodetenham valor, conformam-se totalmente com o plano de Deus re-velado nas Escrituras e procedem do estudo e da obedincia Palavrade Deus e no da busca por algo alm do que Deus nos revelou.

    Paulo conava na experincia?

    O que dizer do apstolo Paulo? semelhana de Pedro, eletambm foi algum dotado de maneira incomum. E, com certeza,passou por experincias espantosas, como a converso sbita na via-gem para Damasco. Viu uma luz to brilhante que o cegou. Ouviuuma voz. Caiu ao cho. Num instante, ele foi transformado de assas-sino de cristos em escravo do Senhor Jesus Cristo (At 9).

    Quando Paulo comeou a pregar e ensinar, fez de sua experi-ncia o ponto central da mensagem? O texto de Atos 17.2 e 3 tornaclara a origem bblica de seu discurso: Paulo, segundo o seu costume,foi procur-los e, por trs sbados, arrazoou com eles acerca das Es-crituras, expondo e demonstrando ter sido necessrio que o Cristopadecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, o Cristo,Jesus, que eu vos anuncio (nfase acrescentada).

    Mesmo depois que Paulo foi levado ao terceiro cu (2 Co 12.1-4),Ele no teve permisso de falar o que viu. Evidentemente, que Deusno achava que essa experincia causaria mais impacto ou credibi-

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    lidade mensagem do evangelho do que a simples pregao de suaverdade. Isso contrata profundamente com a abordagem do movi-

    mento contemporneo de sinais e maravilhas (ver Captulo 6).Perto do final de sua vida, Paulo teve uma argumentao sobre

    a Palavra de Deus. Enquanto era mantido preso em Roma, vieramem grande nmero ao encontro de Paulo na sua prpria residncia.Ento, desde a manh at tarde, lhes fez uma exposio em tes-temunho do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito deJesus, tanto pela lei de Moiss como pelos profetas (At 28.23).

    lastimvel que muitos carismticos no sigam os passosde Paulo. Em vez disso, seguem a trilha dos telogos liberais eneo-ortodoxos, existencialistas, humanistas e pagos. inques-tionvel que a maior parte dos carismticos faze isso de modoinvoluntrio. Eles diriam: Cremos na Bblia. No queremos con-tradizer as Escrituras; desejamos defender a Palavra de Deus.

    Apesar disso, os carismticos so vtimas de uma terrvel tenso,enquanto tentam defender a Bblia e, ao mesmo tempo, fazemda experincia a autoridade prtica. Os conceitos dos lderes etelogos carismticos demonstram esse conflito.

    Por exemplo, Charles Farah tentou harmonizar a tenso entre apalavra de Deus e as experincias. Atentando ao fato de que existemdois vocbulos gregos traduzidas por palavra, ele criou a teoria de

    que logos a Palavra objetiva e histrica, e rhema a Palavra pessoal,subjetiva. O problema com essa conceituao que nem o significa-do do grego nem o uso neotestamentrio fazem qualquer distinodesse tipo. Logos, disse Farah, transforma-se em rhema quando sedirige a voc. O termo logos forense, ao passo que rhema expe-rimental. Farah escreveu: O logos nem sempre se transforma emrhema, a Palavra de Deus para voc.31Ou seja: o logosse transforma

    31 F, Charles. oward a theology of healing. Christian Life, v. 38, p. 78, Sept.1976.

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    em rhemaquando fala pessoalmente a voc. O logoshistrico e ob-jetivo, no sistema de Farah, carece de impacto transformador, at

    transformar-se em rhema a palavra divina pessoal para voc.Isso soa perigosamente semelhante ao que os telogos neo-or-

    todoxos tm dito h anos: a Bblia se torna a Palavra de Deus apenasquando se dirige a voc. odavia, a Palavra de Deus a Palavra deDeus, quer algum experimente o seu poder, quer no. A Bblia nodepende da experincia de seus leitores, para que se torne a Palavrade Deus inspirada. Paulo afirmou que a Escritura era capaz, em e por

    si mesma, de tornar imteo sbio para a salvao (2 m 3.15). Elano precisava da experincia de imteo para valid-la.E Paulo acrescentou: oda a Escritura inspirada por Deus e

    til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educa-o na justia (3.16). Ele declarou que as Escrituras eram inspiradaseteis, e no que elas se tornariam inspiradas e teis, dependendo daexperincia do leitor. Evidencia-se que a Palavra de Deus completa-

    mente suficiente.

    Entusiasmados, mas ingnuos

    Em sua maioria, os carismticos parecem ser sinceros. Mui-tos deles parecem os judeus sobre os quais Paulo afirmou: Porquelhes dou testemunho de que eles tm zelo por Deus, porm no comentendimento (Rm 10.2). Os carismticos tm zelo sem conheci-mento; so entusiasmados, mas falta-lhes esclarecimento. Comoafirmou John Stott: Eles so entusiasmados, mas ingnuos.32

    Ao fazerem da experincia o principal critrio da verdade, re-velam o que Stott designa antiintelectualismo deliberado.33 Elesabordam a vida crist sem a mente, sem pensar, sem usar o en-

    tendimento. De fato, alguns carismticos dizem que Deus concede

    32 S, John R. W. Your mind matters. Downers Grove, Ill.: IVP, 1972. p. 78.33 Ibid. p. 10.

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    deliberadamente s pessoas expresses ininteligveis, a fim de me-nosprezar e humilhar o orgulhoso intelecto humano.

    Entretanto, o conceito de que Deus deseja suplantar ou matarnossa mente racional evidentemente antibblico. Deus afirmou: Vin-de, pois, e arrazoemos (Is 1.18); e: ransformai-vos pela renovao davossa mente (Rm 12.2 nfase acrescentada). Deus deseja a renova-o de nossa mente, no o seu desprezo. Ele se deu a conhecer medianteuma revelao racional que exige o uso da razo e o entendimento daverdade histrica e objetiva (cf. Ef 3.18; 4.23; Fp 4.8; Cl 3.10).

    oda a revelao divina dirigida percepo, ao pensamen-to, ao conhecimento e ao entendimento. Esse o principal ensinode Paulo em 1 Corntios 14 passagem-chave da questo caris-mtica. Ele conclui esse grande captulo com as seguintes palavras:Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendi-mento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra lngua

    (14.19). Quem conhece a Cristo deve usar a mente para apreendera verdade divina. No somos instrudos a confiar nas emoes e atentar extrapolar a verdade com base nas experincias. Como escre-veu James Orr: A religio divorciada do pensamento srio e nobresempre demonstrou, em todo o curso da histria da igreja, a tendn-cia de tornar-se fraca, estril e prejudicial.34Com certeza, devemosresponder verdade por meio das emoes, mas devemos, em pri-

    meiro lugar, apreend-la com o entendimento e nos submetermos aela com a vontade.

    A origem da teologia experimental

    O misticismo, o conceito de que a teologia pode proceder da ex-

    perincia pessoal, no se originou nos carismticos. Diversas outras

    34 O, James. Te christian view of god and the world. New York: Scribners,[19--]. p. 21.

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    influncias, todas anticrists, contriburam para a formao do conceito

    da teologia experimental: existencialismo, humanismo e paganismo.

    O existencialismo um ponto de vista filosfico que afirma o ca-rter absurdo e a falta de significado da vida.35Ensina que devemos

    ser livres para agir segundo nossos desejos, desde que estejamos

    dispostos a assumir a responsabilidade por nossas escolhas. Os exis-

    tencialistas se preocupam primariamente com a maneira como eles

    se sentem. No prestam conta a nenhuma autoridade; na verdade,

    eles se tornam fonte de autoridade para si mesmos. Crem que a

    verdade tudo o que nos arrebata e nos pe em movimento.

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    O humanismo a filosofia que preconiza o poder ilimitado da

    humanidade.37Dem s pessoas tempo e educao suficientes, e elas

    podero solucionar qualquer problema. Sendo meio-irmo do exis-

    tencialismo, o humanismo estimula as pessoas a se auto-afirmarem

    e a seremalgum. Nesta era tecnolgica, em que muitas pessoas se

    sentem apenas como um nmero, destitudas de um nome verda-

    deiro, o humanismo muito atraente. Vivemos nos dias de fruns

    dos ouvintes, dos programas de entrevistas e de trivialidades. Todos

    querem se fazer ouvir e acham uma oportunidade.O humanista, semelhana do existencialista, no reconhece

    uma autoridade suprema. A verdade relativa. A verdade o que

    menos importa; a questo : O que vocacha? Inexistem absolutos,

    e cada um faz o que certo aos prprios olhos (cf. Jz 21.25).38

    Opaganismo outro exemplo de teologia experimental. A maior

    parte das crenas e prticas pags tm razes nas religies de mistrio

    surgidas em Babel. No tempo de Cristo, as pessoas, em todo o mundogreco-romano, participavam de religies de mistrio, com seus mltiplos

    deuses, orgias sexuais, idolatria, mutilao e, talvez, sacrifcios huma-

    nos. Os historiados afirmam que os participantes dessas prticas pags

    experimentavam sentimentos de paz, alegria, felicidade e xtase.

    37 Quanto a uma avaliao do humanismo, ver G, Norman L. Is man the

    measure?Grand Rapids: Baker, 1983.

    38 Quanto a um debate sobre a natureza absoluta da verdade, ver:

    - B, William.Irrational man. Garden City, N.Y.: Doubleday, 1962.

    - S, Francis A. How shou


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